10 dezembro 2008

Andar a pé

Sobre o Andar a pé diz a Agustina Bessa-Luís no Dicionário Imperfeito:


Uma das coisas mais gratas ao estado pensante é o andar a pé no meio da gente. A fácil e sumária realidade que nos é contada através da janela de um automóvel induz-nos a uma depreciação sistemática dos factos. A figura e a imagem das coisas ficam reduzidas à sua percepção; e não entram no recinto próprio da distinção que, essa, é obra do conhecimento.

Quando perdemos o gosto da multidão é porque estamos velhos. Quando não achamos graça a andar a pé na rua, por atropelada que ela esteja, e até suja, e até povoada de gente suspeita, então é porque não pertencemos já número dos vivos. Isto pode acontecer em idade muito tenra, quando ainda usamos bibe e brincamos com bonecas. Há monstrozinhos de seis anos, que não consentem outra coisa senão o automóvel e crescem no isolamento sumário do seu pequeno privilégio.

Sem comentários:

uma verdadeira bomba literária e moral

A Tragédia da Rua das Flores ou O Desastre da Travessa das Caldas ou Os Amores de um Lindo Moço, O Caso Atroz de Genoveva ou simplesmente Genoveva, é uma obra rascunhada e rudimentar do ponto de vista gramatical, formal e estilístico, que ficou esquecida durante cerca de cem anos e que o autor nunca chegou a corrigir.

Todavia, era, para Eça,

"o melhor e mais interessante que tenho escrito até hoje"

"uma verdadeira bomba literária e moral".