17 agosto 2008

O universo de Kieślowski é um universo gnóstico, um universo ainda não completamente formado, criado por um Deus idiota, perverso e confuso, que estragou a obra da Criação, produzindo um mundo imperfeito e tentando depois salvar o que pudesse ser salvo com novas tentativas sucessivas.(...) Esta ideia de universos imperfeitos múltiplos pode ser vista em dois níveis na obra de Kieślowski: (1) o carácter atamancado da realidade descrita nos seus filmes, e as tentativas repetidas subsequentes para (re)criar uma nova, melhor que a anterior; (2) no que respeita ao próprio Kieślowski como autor, também observamos as tentativas repetidas de contar a mesma história de um modo ligeiramente alterado (...). Nesta rescrita eternamente repetida, nunca se dá o «ponto de remate», nunca há uma versão final, a obra nunca está acabada e nunca é de facto posta em circulação, entregue pelo autor ao grande Outro do Público.
Slavoj Žižek em Lacrimae Rerum, sobre Krzysztof Kieślowski

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uma verdadeira bomba literária e moral

A Tragédia da Rua das Flores ou O Desastre da Travessa das Caldas ou Os Amores de um Lindo Moço, O Caso Atroz de Genoveva ou simplesmente Genoveva, é uma obra rascunhada e rudimentar do ponto de vista gramatical, formal e estilístico, que ficou esquecida durante cerca de cem anos e que o autor nunca chegou a corrigir.

Todavia, era, para Eça,

"o melhor e mais interessante que tenho escrito até hoje"

"uma verdadeira bomba literária e moral".